Com Wanderléa e Orlando Silva, a trilha sonora de ‘Senhora dos afogados’ ecoa alta voltagem emocional da encenação

Dirigido por Monique Gardenberg, o exuberante espetáculo do Teatro Oficina também rebobina gravações de Amália Rodrigues e Núbia Lafayette. Wanderléa est...

Com Wanderléa e Orlando Silva, a trilha sonora de ‘Senhora dos afogados’ ecoa  alta voltagem emocional da encenação
Com Wanderléa e Orlando Silva, a trilha sonora de ‘Senhora dos afogados’ ecoa alta voltagem emocional da encenação (Foto: Reprodução)

Dirigido por Monique Gardenberg, o exuberante espetáculo do Teatro Oficina também rebobina gravações de Amália Rodrigues e Núbia Lafayette. Wanderléa está presente na trilha do espetáculo com a gravação original de ‘Você vai ser o meu escândalo’, canção de 1969 Zé Carlos Barretta ♫ ANÁLISE ♬ Em 1969, Wanderléa apresentou em single uma canção inédita ofertada à cantora pelos amigos Roberto Carlos e Erasmo Carlos (1941 – 2022). Trata-se de Você vai ser o meu escândalo, música nunca gravada por Roberto nem por Erasmo. Com letra que versa sobre um amor vivido às escondidas, em contexto que pode tanto se referir a uma união homoafetiva quanto a um relacionamento extraconjugal, Você vai ser o meu escândalo é grande música da parceria de Roberto com Erasmo que, 56 anos após ter sido lançada por Wanderléa, emerge no mar mítico erguido pelo Teatro Oficina na remontagem de Senhora dos afogados, em cena em São Paulo (SP) de sexta-feira a segunda-feira. Ouvida na gravação original de Wanderléa, Você vai ser o meu escândalo ilustra na encenação de Senhora dos afogados o encantamento e enlace sexual de Dona Eduarda (Leona Cavalli) com o noivo (Roderick Himeros) de Moema (Lara Tremouroux), filha de Eduarda. A letra também se afina com a fixação de Moema pelo pai, Misael (Marcelo Drummond). Peça escrita em 1947, Senhora dos afogados é uma das tragédias míticas da obra do dramaturgo Nelson Rodrigues (1912 – 1980), escritor pernambucano de alma e vivência cariocas. Imagem promocional da peça ‘Senhora dos afogados’, em cena no Teatro Oficina, em São Paulo (SP), de sexta-feira a segunda-feira Sergio Fernandes / Divulgação Erguida sob direção de Monique Gardenberg, para honrar desejo de José Celso Martinez Corrêa (1937 – 2023), o Zé Celso, criador do Teatro Oficina, a encenação de Senhora dos afogados é exuberante, imagética, faz excelente uso de recursos audiovisuais – marca de Monique como diretora de teatro – e utiliza a música como elemento importante do espetáculo, em sintonia com a tradição do Teatro Oficina. Além de músicas interpretadas ao vivo pelo coro do Teatro Oficina, como Festa de Candomblé (tema do folclore afro-brasileiro em adaptação de Martinho da Vila, 1983), a trilha sonora do espetáculo Senhora dos afogados é tão imponente quanto inesperada, reproduzindo gravações afinadas com a intensidade da encenação. Já na abertura da cena o espectador é impactado pelo canto do fado Foi Deus (Alberto Janes, 1952) em gravação da cantora portuguesa Amália Rodrigues (1920 – 1999) com participação de Anabela. No fecho, um registro de Hino ao amor – versão brasileira de Hymne à l'amour (1950), sucesso da cantora francesa Edith Piaf (1915 – 1963) – arremata a cena na voz da cantora Núbia Lafayette (1937 – 2007), em gravação de 1975 que ecoa a versão em português escrita pelo compositor paulista Odair Marzano (1929 – 2021) e lançada em 1959. Entre um e outro tema da trilha sonora do espetáculo, a voz referencial do cantor carioca Orlando Silva (1915 – 1963) também vem à tona nas águas da encenação de Senhora dos afogados com a gravação original, feita em fevereiro de 1940, de Súplica (José Marcílio, Déo e Otávio Gabus Mendes), valsa cujos versos dilacerados expressam desespero e dor diante de um amor que se esvai com adeus frio como “aço de punhal”. Tudo a ver com a atmosfera de loucura – já entranhada na alma da matriarca Dona Marianinha (Regina Braga) – que envolve personagens à beira do desvario no texto de Nelson Rodrigues. Ao mesmo tempo em que apresenta passagens dionisíacas, fiéis ao fogo criativo de Zé Celso, a encenação de Senhora dos afogados por Monique Gardenberg está mergulhada em alta voltagem emocional, amplificada por trilha sonora à altura do espetáculo em cartaz no Teatro Oficina. Evoé, Zé Celso! Orlando Silva (1915 – 1963) é ouvido no espetáculo com gravação da dilacerada valsa 'Súplica', de 1940 Reprodução Imagem promocional da peça ‘Senhora dos afogados’, em cena no Teatro Oficina, em São Paulo (SP), de sexta-feira a segunda-feira Sergio Fernandes / Divulgação